domingo, 7 de março de 2010

Um baú para os segredos

Assim se chamava um poema que escrevi há uns dez anos sobre os nomes próprios. A ideia era de que nossos nomes funcionam mais ou menos como um traço fronteiriço, um receptáculo, um limite e uma garantia de nossa individualidade. Voltei a pensar nisso depois de meu último post, que trata de incomunicabilidade e solidão, desdobramentos inevitáveis do fato de sermos indivíduos, ou individuais, e porque ultimamente tem-me parecido pouco desejável essa individualidade que é sinônimo de solidão absoluta. Em sentido inverso, a reflexão sobre o nome ressurgiu como uma possibilidade de conciliar "eu" e "o outro", uma vez que, em última análise, nosso nome serve apenas para que sejamos chamados, ou seja, só tem utilidade na relação "eu-outro". Tudo muito racional, tudo muito teórico, até que encontrei nas atualizações de um amigo no Orkut a frase: "quando alguém te ama, a forma de falar seu nome é diferente"; e aí fui ver que, nas explicações sobre "quem eu sou", esse amigo colocou não só uma explicação sobre o significado de seu nome como algumas considerações bem bacanas sobre as várias formas pelas quais ele é chamado. Publico aqui minha própria versão da brincadeira, como um exemplo, e sugiro a todos os que ainda estiverem em busca de si mesmos e em fuga da solidão absoluta que façam o mesmo como exercício. "Vale uma meia-horinha", como diria meu amigo Bruno.

Roger quer dizer "guerreiro famoso", mais precisamente um "lanceiro". Os Orixás confirmam minha relação com a guerra: sou, como Clara Nunes, filho de Ogum com Iansã. Não é muito óbvio, porque a maior parte das guerras em minha vida acontecem do lado de dentro. Socialmente, prefiro atuar pela "paz e amor".

Meu nome completo é Roger Augusto Marquart Dörl, mas pouca gente sabe disso. Quando estreei no teatro, aos doze anos, encurtei tudo para Roger Dörl (sempre fiz questão do trema) e é assim que hoje sou mais conhecido. No dia-a-dia, claro, sou chamado só pelo nome, Roger, e sempre achei coerente que ele fosse incomum: é assim mesmo que eu me sinto. Não por vaidade... tá, só um pouco. Em família e por alguns amigos sou chamado só de , e a sonoridade disso sempre me transporta interiormente para um lugar confortável. Nunca tive um apelido que pegasse, embora meu pai tenha feito durar bastante o Papa-léguas com que ironizava a minha pouca pressa. Por sorte, meu irmão e os poucos amigos que aderiram usavam mais a abreviação Papa, acho que por preguiça de dizer um nome tão comprido. Outro apelido eventual é o Poeta, que eu gosto bastante porque parece que descreve bem a forma como eu gostaria de ser entendido. Quando eu tinha entre catorze e dezesseis anos, as crianças da minha escola me chamavam de Palhaço por causa de umas peças que eu fazia; e hoje, na mesma escola, tem os engraçadinhos que me chamam de Jesus. Não que eu me importe: eu gosto de palhaços e de me parecer com Jesus, e principalmente eu gosto muito de crianças. Em sala de aula, prefiro ser chamado pelo nome e não de Professor, mas nem todos se sentem à vontade para isso, e então eu não insisto. Na verdade, acho até que em alguns casos o tratamento demonstra um respeito sincero e não condicionado, o que faz toda a diferença. Dá até vontade de agradecer.

Nas ruas, nos bares, nas conversas casuais entre amigos ou desconhecidos, Mano, Velho, Brother e afins serão sempre muito bem vindos.

2 comentários:

Bipolar Galvanizado disse...

como sempre um belo texto.
eu gostaria de escrever mais, mas sei lá hj em dia preciso de mais tempo pra digerir o que devo dizer e acho que por fazer tão depressa perco parte importante, mas isso não vem ao caso.

parabéns pelo texto,
abraços

Caroline Lipca disse...

po-e-ta!